Margarida Sousa: “Às vezes, o pessoal diz “tiveste muita sorte”. Não foi sorte! Trabalhei para ter sorte”

07-01-2024

Margarida Sousa (antiga aluna da Universidade Autónoma de Lisboa, licenciada em Ciências da Comunicação nasceu no Algarve, em Lagos, e atualmente reside em Lisboa onde faz o que mais gosta: televisão. Tem 23 anos e já alcançou muitos dos seus objetivos. Em entrevista, conta os detalhes da sua entrada no mercado de trabalho e fala dos vários projetos em que participou.

Texto de Rodrigo Dutra

É licenciada em Ciências da Comunicação pela Universidade Autónoma de Lisboa. Sempre quis estudar comunicação?

Nunca soube aquilo que queria estudar. Cheguei ao final do 12.º ano e não fazia ideia do que queria, e pensei... Onde é que me enquadro melhor? Adoro comunicar, falar, estar com pessoas, sabia que poderia querer algo [relacionado] com comunicação. Mas era tudo muito vago, não tinha grande noção de que cursos é que havia a nível da comunicação. Comecei a pesquisar e toda a gente dizia: "Tens de ir para comunicação, é a tua cara". E foi assim. Nunca fui para o secundário a pensar que iria para comunicação.

Há curso de comunicação no Algarve. Mas porquê a Autónoma?

Há comunicação no Algarve, sim, mas sonhei muito vir para a capital, para uma cidade cheia de vida, para um contexto completamente diferente, onde temos a plena noção que vamos crescer sozinhos. Não vamos ter a alçada dos nossos pais para nos proteger e acho que isso é a melhor aprendizagem.... Tinha uma amiga a estudar cá e ela deu-me um feedback brutal. Estúdios de televisão, rádio, coisas muito práticas e era isso que procurava. Foi por causa disso, pela praticidade do curso.

Quando se chega ao terceiro ano já se tem uma perceção do que vai acontecer após a licenciatura. Como foi reagindo ao processo da procura de estágio?

Foi complicado. Há sempre aquela preocupação de isto ser uma área de "sete cães a um osso". Isto é uma luta de egos. Queremos todos o mesmo e querermos todos chegar lá, faz com que se instale este medo de "como é que eu vou chegar lá". Como é que vou cativar uma pessoa com o meu currículo? Isto foi um processo um pouco difícil. Cheguei a enviar muitos emails sem resposta e é um bocadinho assustador.

"Porque o comboio só passa uma vez, ou tu entras ou ficas a ver"

Como já referimos, a procura de estágio nesta área é bastante difícil e usou a expressão "sete cães a um osso". Mas como foi a sua entrada no mercado de trabalho?

Consegui o estágio, e na altura, fui bastante criticada pelos meus colegas. Acabei a licenciatura em julho e surgiu-me a oportunidade de estagiar nos meses de verão. Eles diziam "tu és parva, não vais aproveitar as tuas férias e não sabes quando voltas a ter férias de verão", e disse "não, não vou fechar a porta e não vou ficar à espera que se abra uma janela, porque o comboio só passa uma vez, ou tu entras ou ficas a ver". Decidi entrar, pensei em mim, no meu futuro e foi a melhor coisa que eu fiz [gestos de felicidade]. Fui estagiar para a produtora Até ao Fim do Mundo, em produção. Comecei num projeto que era da SIC Mulher. Depois gostaram do meu trabalho e, em simultâneo, comecei a fazer produção aos sábados na 'Caixa Mágica', na SIC. Quando os programas acabaram, convidaram-me a ficar mais três meses.

"Se fores desenrascado não há dificuldades, são obstáculos que vais passando, e às tantas, apaziguando"

A licenciatura dá as bases, mas depois no mercado trabalho é diferente. Quais foram as dificuldades que sentiu enquanto produtora?

Dificuldades há sempre muitas. Vais para um sítio onde não conheces ninguém e queres sempre causar uma boa impressão. Aqui, a dificuldade foi ter de me comportar da maneira correta. Também gerir muitos horários, ter de estar sempre de um lado para o outro é uma grande dificuldade. Mas acho que não houve propriamente dificuldades. Falo por mim, se fores desenrascado não há dificuldades, são obstáculos que vais passando e às tantas apaziguando.

Este estágio era exatamente o que queria quando foi convidada ou aceitou por não conseguir arranjar o que queria na área?

Da mesma maneira que acabei o secundário, acabei a licenciatura. Perguntavam-me: "Queres estagiar em quê?". E eu não sabia. O professor Carlos Pedro Dias, o meu professor de Atelier de Televisão, disse-me: "Acho que tu eras boa nesta área [área de produção]". Por ser uma pessoa que resolve rapidamente os problemas, sou muito desenrascada. E fui, não me arrependo nada.

"É um sonho tornado realidade, nunca tive sonhos na área da comunicação"

Já fez parte de vários projetos como 'Caixa Mágica' e 'É Bom Vivermos Juntos'. Agora todos os domingos o 'Domingão'. Gosta de fazer parte do programa?

Adoro. É a minha cara. Desde os 12 anos que adoro música pimba e vou aos bailes das terrinhas. Quando surgiu a oportunidade de fazer o "Domingão", fiquei... [euforia] fiquei tão feliz. Não tenho mesmo palavras, adoro toda a equipa, trabalhar com o João Baião... tem uma energia contagiante e espero chegar à idade dele com aquela energia. É um sonho tornado realidade, nunca tive sonhos na área da comunicação.

E para além do "Domingão", a Margarida está toda a semana na RTP, na rádio ZigZag. Uma experiência completamente diferente. Qual a diferença dessa experiência para a da televisão?

É muito diferente. A ZigZag é para um público infantil, não é fácil comunicar para crianças. Na televisão estamos de um lado para o outro, aqui é mais trabalho de escritório. Como sou uma pessoa que gosta muito de andar de um lado para o outro, tive de arranjar também uma maneira na rádio de ser mais prática. Sugeri começar a fazer vídeos para as redes sociais e isto também me dava alguma bagagem para começar a entrar na área da multimédia. A multimédia foi uma área que apareceu na minha vida e que estou a adorar. Estou no ZigZag e no Radar XS. É tudo público jovem e eles carecem muito de vídeos nas redes sociais, então estou a ser essa pessoa que está a tentar dar um refresh às redes sociais e a fazer muitos conteúdos.

"Muita gente tem o sonho de ser apresentadora, acho que não o tenho"

Passado dois anos e meio desde que se licenciou, o que quer fazer ainda e não teve oportunidade?

Sou sincera, gostava de trabalhar como produtora de conteúdos porque ainda não tive essa oportunidade. Sinto que estou a perder muito a escrita e já não escrevo há muito tempo. Muita gente tem o sonho de ser apresentadora, acho que não o tenho. Se tivesse de ser apresentadora, tinha de ser uma coisa life style tipo "Somos Portugal" ou "Domingão".

É um dos casos de sucesso que passou pela Universidade Autónoma de Lisboa. Que conselhos é que pode dar a alunos que estão a terminar a licenciatura?

Podemos dizer que sim. Fico um bocado envergonhada com essas coisas. É preciso muita força. Temos de ser muito racionais, de ter a noção que não é um caminho fácil. O conselho que dou é ter coragem, confiança, mas, sobretudo, vontade de trabalhar. Acho que temos de ter a capacidade de absorção, temos de ser esponjas. Se tiveres de trabalhar mais horas, trabalha. É muito complicado, mas eles [os diretores das produtoras] vão valorizar. Às vezes, o pessoal diz "tiveste muita sorte". Não foi sorte! Trabalhei para ter sorte. Tu precisas de trabalhar para ter sorte. O que digo é não desistam, porque há espaço para todos. Muito trabalho, esforço, dedicação, engolir muitos sapos e seres tu. Um dia isso vai ser recompensado.

Pode ver abaixo em vídeo