Margarida Sousa: “Às vezes, o pessoal diz “tiveste muita sorte”. Não foi sorte! Trabalhei para ter sorte”

Margarida Sousa (antiga aluna da Universidade Autónoma de Lisboa, licenciada em Ciências da Comunicação nasceu no Algarve, em Lagos, e atualmente reside em Lisboa onde faz o que mais gosta: televisão. Tem 23 anos e já alcançou muitos dos seus objetivos. Em entrevista, conta os detalhes da sua entrada no mercado de trabalho e fala dos vários projetos em que participou.
Texto de Rodrigo Dutra
É licenciada em Ciências da Comunicação pela Universidade Autónoma de Lisboa. Sempre quis estudar comunicação?
Nunca soube aquilo que queria estudar. Cheguei ao final do 12.º ano e não fazia ideia do que queria, e pensei... Onde é que me enquadro melhor? Adoro comunicar, falar, estar com pessoas, sabia que poderia querer algo [relacionado] com comunicação. Mas era tudo muito vago, não tinha grande noção de que cursos é que havia a nível da comunicação. Comecei a pesquisar e toda a gente dizia: "Tens de ir para comunicação, é a tua cara". E foi assim. Nunca fui para o secundário a pensar que iria para comunicação.
Há curso de comunicação no Algarve. Mas porquê a Autónoma?
Há comunicação no Algarve, sim, mas sonhei muito vir para a capital, para uma cidade cheia de vida, para um contexto completamente diferente, onde temos a plena noção que vamos crescer sozinhos. Não vamos ter a alçada dos nossos pais para nos proteger e acho que isso é a melhor aprendizagem.... Tinha uma amiga a estudar cá e ela deu-me um feedback brutal. Estúdios de televisão, rádio, coisas muito práticas e era isso que procurava. Foi por causa disso, pela praticidade do curso.
Quando se chega ao terceiro ano já se tem uma perceção do que vai acontecer após a licenciatura. Como foi reagindo ao processo da procura de estágio?
Foi complicado. Há sempre aquela preocupação de isto ser uma área de "sete cães a um osso". Isto é uma luta de egos. Queremos todos o mesmo e querermos todos chegar lá, faz com que se instale este medo de "como é que eu vou chegar lá". Como é que vou cativar uma pessoa com o meu currículo? Isto foi um processo um pouco difícil. Cheguei a enviar muitos emails sem resposta e é um bocadinho assustador.
"Porque o comboio só passa uma vez, ou tu entras ou ficas a ver"
Como já referimos, a procura de estágio nesta área é bastante difícil e usou a expressão "sete cães a um osso". Mas como foi a sua entrada no mercado de trabalho?
Consegui o estágio, e na altura, fui bastante criticada pelos meus colegas. Acabei a licenciatura em julho e surgiu-me a oportunidade de estagiar nos meses de verão. Eles diziam "tu és parva, não vais aproveitar as tuas férias e não sabes quando voltas a ter férias de verão", e disse "não, não vou fechar a porta e não vou ficar à espera que se abra uma janela, porque o comboio só passa uma vez, ou tu entras ou ficas a ver". Decidi entrar, pensei em mim, no meu futuro e foi a melhor coisa que eu fiz [gestos de felicidade]. Fui estagiar para a produtora Até ao Fim do Mundo, em produção. Comecei num projeto que era da SIC Mulher. Depois gostaram do meu trabalho e, em simultâneo, comecei a fazer produção aos sábados na 'Caixa Mágica', na SIC. Quando os programas acabaram, convidaram-me a ficar mais três meses.
"Se fores desenrascado não há dificuldades, são obstáculos que vais passando, e às tantas, apaziguando"
A licenciatura dá as bases, mas depois no mercado trabalho é diferente. Quais foram as dificuldades que sentiu enquanto produtora?
Dificuldades há sempre muitas. Vais para um sítio onde não conheces ninguém e queres sempre causar uma boa impressão. Aqui, a dificuldade foi ter de me comportar da maneira correta. Também gerir muitos horários, ter de estar sempre de um lado para o outro é uma grande dificuldade. Mas acho que não houve propriamente dificuldades. Falo por mim, se fores desenrascado não há dificuldades, são obstáculos que vais passando e às tantas apaziguando.
Este estágio era exatamente o que queria quando foi convidada ou aceitou por não conseguir arranjar o que queria na área?
Da mesma maneira que acabei o secundário, acabei a licenciatura. Perguntavam-me: "Queres estagiar em quê?". E eu não sabia. O professor Carlos Pedro Dias, o meu professor de Atelier de Televisão, disse-me: "Acho que tu eras boa nesta área [área de produção]". Por ser uma pessoa que resolve rapidamente os problemas, sou muito desenrascada. E fui, não me arrependo nada.
"É um sonho tornado realidade, nunca tive sonhos na área da comunicação"
Já fez parte de vários projetos como 'Caixa Mágica' e 'É Bom Vivermos Juntos'. Agora todos os domingos o 'Domingão'. Gosta de fazer parte do programa?
Adoro. É a minha cara. Desde os 12 anos que adoro música pimba e vou aos bailes das terrinhas. Quando surgiu a oportunidade de fazer o "Domingão", fiquei... [euforia] fiquei tão feliz. Não tenho mesmo palavras, adoro toda a equipa, trabalhar com o João Baião... tem uma energia contagiante e espero chegar à idade dele com aquela energia. É um sonho tornado realidade, nunca tive sonhos na área da comunicação.
E para além do "Domingão", a Margarida está toda a semana na RTP, na rádio ZigZag. Uma experiência completamente diferente. Qual a diferença dessa experiência para a da televisão?
É muito diferente. A ZigZag é para um público infantil, não é fácil comunicar para crianças. Na televisão estamos de um lado para o outro, aqui é mais trabalho de escritório. Como sou uma pessoa que gosta muito de andar de um lado para o outro, tive de arranjar também uma maneira na rádio de ser mais prática. Sugeri começar a fazer vídeos para as redes sociais e isto também me dava alguma bagagem para começar a entrar na área da multimédia. A multimédia foi uma área que apareceu na minha vida e que estou a adorar. Estou no ZigZag e no Radar XS. É tudo público jovem e eles carecem muito de vídeos nas redes sociais, então estou a ser essa pessoa que está a tentar dar um refresh às redes sociais e a fazer muitos conteúdos.
"Muita gente tem o sonho de ser apresentadora, acho que não o tenho"
Passado dois anos e meio desde que se licenciou, o que quer fazer ainda e não teve oportunidade?
Sou sincera, gostava de trabalhar como produtora de conteúdos porque ainda não tive essa oportunidade. Sinto que estou a perder muito a escrita e já não escrevo há muito tempo. Muita gente tem o sonho de ser apresentadora, acho que não o tenho. Se tivesse de ser apresentadora, tinha de ser uma coisa life style tipo "Somos Portugal" ou "Domingão".
É um dos casos de sucesso que passou pela Universidade Autónoma de Lisboa. Que conselhos é que pode dar a alunos que estão a terminar a licenciatura?
Podemos dizer que sim. Fico um bocado envergonhada com essas coisas. É preciso muita força. Temos de ser muito racionais, de ter a noção que não é um caminho fácil. O conselho que dou é ter coragem, confiança, mas, sobretudo, vontade de trabalhar. Acho que temos de ter a capacidade de absorção, temos de ser esponjas. Se tiveres de trabalhar mais horas, trabalha. É muito complicado, mas eles [os diretores das produtoras] vão valorizar. Às vezes, o pessoal diz "tiveste muita sorte". Não foi sorte! Trabalhei para ter sorte. Tu precisas de trabalhar para ter sorte. O que digo é não desistam, porque há espaço para todos. Muito trabalho, esforço, dedicação, engolir muitos sapos e seres tu. Um dia isso vai ser recompensado.